Alvo


- Droga! - diz pra si mesmo depois de errar mais uma vez. 
- Você não é muito bom nisso, né? – diz um homem, que o observava de longe.
- Não... - responde sem muito interesse, jogando outro dardo, e errando novamente. 
- Você erra, mas continua na mesma técnica, como pretende acertar assim? 
- Como assim? – pergunta com um pouco mais de interesse, porém, sem dar mais atenção. 
- Sua postura continua a mesma, e obviamente estar errando por isso. 
- Sempre joguei assim e as vezes acerto. Praticamente um jogo de sorte. 
- Então basicamente você fica errando até que acerte? 
- Olha, me deixa jogar sozinho, tá bom? 
- Assim só vai ficar frustrado. Obviamente isso tá mexendo com você. Deixa de ser orgulhoso e se permite aprender algo novo. 
- Eu já sei todas as instruções. Só preciso jogar. 
- Instruções...? 
- Mirar, focar e atirar. Como falei, basicamente um jogo de sorte. 
- Mas envolve mais que isso. Sua postura interfere, o modo que atira também, até mesmo como mirar. - - Não é sorte. Parece que só diz isso pra esconder que não consegue acertar quando quer. 
- ... Pessoas aprendem errando, sabia? 
- Não se ficarem pisando no mesmo erro. Errar e ficar frustrado com isso não ajuda em nada. Erros ensinam quando reconhece que falhou e onde está essa falha. 
- Não estou me lamentando, tá bom? Consigo muito bem lidar com isso. 
- É? E porque continua jogando? 
- Porque eu quero. Eu gosto de jogar e ficar por aqui. 
- Não pretende sair dessa repetição? Já te vejo aqui faz tempo. Você vem, fica atirando sem proposito, quando acerta uma, para e volta no outro dia. 
- Tá me vigiando? 
- Não. Mas impossível não se incomodar com sua falta de consistência. Quando está no rumo, na direção certa, quando acho que está entendendo... Você volta à estaca zero de proposito, qual o sentido? - Gosta do nível um? 
- Qual é a tua, em? Me deixa cara, eu estar perdendo não te afeta em nada, então só me deixa. 
- Afeta, porque sei como se sente. Conforto, não é? 
- ... Me deixa em paz – diz ao jogar outro dardo. 
- Se sente bem em errar porque sabe que não vai mais do que isso. Tem medo que nunca consiga chegar onde quer e por isso nem sai do lugar. Achou conforto em tentar subir até o primeiro degrau... – fala ao pegar um dos dardos da mão dele – Mas, na verdade, não é capaz de lidar com sua própria falha e se esconde, nem se quer tentando. 

E dando uma olhada rápida no alvo, joga o dardo, acertando no centro. Saindo de perto do garoto, vendo que os demais dardos nem se quer chegaram perto.