Culpado | Capítulo I - Novato

Em mais uma manhã, aparentemente normal, Jason chega no departamento de polícia e sobe para seu andar. Sendo um detetive respeitado em todo o estado de São Paulo, todos o cumprimentam, mas ele responde somente alguns pois sabe que a maioria falam com ele apenas para bajularem. Entra no elevador e sobe para o andar onde está seu escritório, onde um caso o esperava. Mas, antes da porta fechar, um rapaz pede para segurar a porta, que por educação, Jason segura com a ponta do seu pé. Um jovem que parecia está nervoso ao modo que segura as pastas em sua mão e arruma seus óculos, cumprimenta-o com um bom dia, que é respondido de forma fria.

- Novato, garoto? - pergunta sem olhar para ele. Arrumando seu casaco no espelho do elevador.
- Sim, sim. Eu espero agradar eles.
- Agindo assim não vai.
- Como?

Soltando um suspiro, Jason responde:

- Postura. Do jeito que esta, é o mesmo que dizer: "Ei, sou um novato, se aproveitem de mim". - diz com certa ironia em seu tom. - Deixe os ombros alinhados e não segure as pastas cobrindo seu peito. Arrume-as e bote de lado. 

O rapaz faz o que ele diz e responde:

- Assim?
- É, assim está... Bom.
- Prazer Gus-
- É um prazer em conhecê-lo Gustavo. Espero que se dê bem em seu primeiro dia na área investigativa.
- Como sabe?
- O nome em seu crachá e as pastas de crimes em sua mão.
- Nossa. - diz com um suspiro junto a um sorriso.

A porta do elevador abre e eles saem. E logo Jason vai para o seu escritório, mas no caminho, para na cozinha para pegar seu café de toda manhã.

- Bom dia, detetive Jason. - diz Rosa, a moça que cuidava da cozinha.
- Bom dia, Rosa. O que temos para hoje?
- O delegado Jones parece está com novidades.
- Se for do estagiário, eu já sei.
- Tem algo que não saiba. - diz com um sorriso.

O delegado vai onde estão e da porta diz:

- Jason, passa na minha sala, por favor.
- Certo.

Sorrindo e dizendo em mudo: "Boa sorte", Rosa se despede de Jason que põe a xícara de café no balcão. Ao chegar na sala, se senta na cadeira e Jones diz:

- Lembra que você disse que queria um ajudante?
- Eu nunca disse isso.
- Esse é o Gustavo, irá trabalhar com você.
- Por que?
- Precisamos treinar novos detetives como você. Está no auge dos seus 40, está em forma e é o melhor detetive desse departamento. Mas, vão vir outras gerações.
- Não sirvo para ser tutor. Você sabe muito bem.
- Sim... Eu sei. Mas vamos... Você me deve essa.
- ... Okay. Quem vai ser o pobre coitado?

Nesse momento Jason lembra do jovem do elevador de momentos atrás.

- Não me diga que é o-
- Me chamou, senhor? - diz Gustavo abrindo a porta.
- Isso. - diz Jones. - Jason, esse é seu novo ajudante e aprendiz.

"Só pode ser brincadeira" diz Jason pra si mesmo.

- O senhor? - pergunta Gustavo surpreso. - Que massa, eu não sabia que era o senhor. Eu estudei todos os seus casos, sou seu grande fã.
- Já se conhecem? - pergunta Jones.
- Sim. - responde Jason. - Garoto, pode nos dá licença.
- Sim, senhor. Quer dizer, detetive.

Ao sair, Jason vira e diz:

- Uma semana. Nada mais que isso.
- Certo. Depois desse período transfiro ele.
- Obrigado. - diz apertando as mãos.

Jason sai da sala e ver que Gustavo estava esperando com algumas pastas na mão.

- Okay, garoto. - diz indo ao elevador. - Qual é o caso?
- Eu vou escolher? Tipo... Mesmo?
- Quer ser detetive, né?
- Sim, senhor.
- Então aprenda a responder rápido.
- C-Certo... Bom, tem um caso que aconteceu essa madrugada. 

Eles entram no elevador e Jason pede a pasta para ler sobre o caso.

- Isso parece interessante.

Depois disso, se dirigem ao local do crime: A casa do Sr. e Sra. Rodrigues. Chegando lá, veem que já haviam policiais no local. Entrando na casa, um cadáver no meio da sala, paramédicos tentando acordar uma doméstica e uma mulher chorando sentada enquanto seu marido a consola. 

- Detetive Jason. - diz um dos policiais indo até eles.
- Facada? 
- Sim, três no abdômen. 
- Só tinham eles no local?
- Sim.
- Reúna todos. Quero falar com cada um.
- Pode deixar.
- Garoto. Venha comigo.

Eles andam até a biblioteca do local, onde iriam fazer o interrogatório.

- Quero que faça o seguinte. Anote tudo que eles disserem, okay? E sublinhe os detalhes importantes, como: local, roupa, horários... Qualquer citação desse nível, entendeu?
- Sim, senhor.
- Está com um gravador?
- Eu... Não tenho.
- É melhor arranjar. Então use o do seu celular.
- Okay.
- Diga ao policial que pode mandar entrar um por um. Comece pela Sra. Rodrigues.
- Certo.

Quando ela entra, ainda enxugando as lágrimas, se senta na cadeira na ponta da mesa e Jason senta-se na sua frente, na outra ponta. Gustavo põe seu celular um pouco a frente dela, gravando sua voz e se senta mais próximo de Jason, com seu bloco de notas em mão.

- Olá, senhora Rodrigues. 
- Olá, detetive. - diz ela meio tremula.
- Pode nos contar o que aconteceu?
- Claro... Tudo começou ontem a noite. Eu e meu marido havíamos discutido e ele saiu de casa... Pra esfriar a cabeça, não levou as chaves, apenas saiu. Estava sentada na sala de estar quando escutei a campainha. Pedi para a Ana atender a porta, achei que era meu marido então fui para a mesa de jantar esperar para conversar com ele enquanto comíamos. Mas era um assaltando que a deixou inconsciente. Me trancou na cozinha e só sai quando meu marido chegou.
- Obrigado. Deve ter sido muito traumático pra você, imagino.
- Sim, foi desesperador.
- Ouviu algo a mais depois que foi trancada?
- Não... Eu não ouvi mais nada.
- Entendo. Pode ir, mais uma vez, obrigado.

Ele faz um gesto com a mão para Gustavo e diz para chamar Ana. Gustavo se levanta e Jason ver as anotações que o garoto fez. Observa que ele fez o que pediu e gostou do trabalho.
Gustavo entra junto com Ana, que parecia ainda meio desorientada. 

- Bom dia, Ana.
- Bom dia, senhor detetive. 
- Está bem para contar o que houve?
- Estou.
- Então me conte a partir da discussão, por favor. 
- Certo... Bom, depois que discutiram, o senhor Rodrigues saiu e eu fui tirar a louça da mesa para lavar. Enquanto lavava a louça, ouviu um som vindo da sala junto com um grito da senhora Rodrigues. Quando sai para ver o que era, senti uma pancada na nuca e apaguei.
- A senhora Rodrigues falou com você depois da discussão?
- Sim, apenas comentou sobre o fato de "homem não prestar" e me ajudou a levar os pratos para a pia.
- O que serviu?
- O jantar? Eu fiz peru.
- Obrigado, pode ir.
- Espero ter ajudado. 
- Ajudou sim.

Ela se levanta e Jason nota que seu uniforme está sutilmente sujo de sangue na altura do peito, mas não diz nada.

- Falta apenas o senhor Rodrigues. - diz ele.
- Quer que eu chame?
- Faça isso.

Gustavo se levanta e o chama. Logo ele aparece, com o rosto ainda irritado, senta-se de forma bruta e diz:

- Boa noite, seu detetive. Essa investigação vai demorar muito?
- Não, creio que já estamos acabando.
- E como posso ajudar?
- Me conte sobre ontem, a partir da discussão. 
- Não lembro o motivo em si, mas sai de casa para evitar que acontecesse algo pior. Então peguei meu carro e fui para o restaurante, terminar de jantar. Quando cheguei, já com a cabeça fria, vi a Ana no chão e pouco a frente vi um homem. A porta que ligava a cozinha estava trancada, então tive que arrombar e vi minha mulher lá. É só isso que eu sei.
- Não lembra de mais nenhum detalhe específico?
- Tinha uma faca entre Ana e o homem. Apenas isso.
- Entendi. Pode ir.

Senhor Rodrigues se levanta e sai. 

- Anotou tudo garoto?
- Sim, senhor. 

Jason se levanta e anda até a cozinha. Gustavo vai atrás dele, pega o celular e pergunta:

- E agora?
- Vamos ver os locais que disseram. Vá nos paramédicos e peça os detalhes do machucado da Ana e diga aos policiais para não deixarem meus suspeitos saírem. E pergunte se há alguma impressão digital na faca que encontraram.
- Okay.

Jason chega a cozinha e ver a porta no chão. Põe suas luvas e levanta. Ver que a chave ainda estava na fechadura. Volta o olhar para a pia. Ver que há 2 garfos, 2 colheres e só uma faca. Ainda na pia, ver manchas de sangue na torneira e segue o rastro, que seguia pelo chão até algumas toalhas que estavam na lixeira. 

- Senhor. - diz Gustavo entrando. - Os paramédicos disseram que foi um impacto dado de mal jeito. E a faca, estava manchada, como se alguém tivesse a limpado.
- Entendi. 
- Já descobriu quem foi?
- Só dedução.
- Se me permite... Eu tenho uma teoria.
- Diga.

Depois de alguns minutos, Jason e Gustavo vão até a sala e os policiais perguntam se haviam solucionado o caso.

- Sim. Senhora Rodrigues. - diz Jason. - Você é culpada pelo o homicídio culposo e tentativa de assassinato.
- O que? - indagam todos ao redor.
- Como chegou a essa conclusão? - pergunta o policial.
- Ela mentiu ao dizer que não haviam jantado, já que tanto Ana como o seu marido confirmaram que a janta foi servida. Também disse que foi trancada dentro da cozinha, mas a chave estava na parte de dentro da porta, ou seja... Ela se trancou. Tudo estava confuso, mas a teoria que o garoto me disse, ajudou nisso. - diz se referindo ao Gustavo. - Então o que aconteceu foi o seguinte. Depois da discussão, ela ajudou Ana a guardar a louça, assim, pegou a arma do crime: a faca. Ela estava planejando matar seu marido quando chegar. Mas, quando ela mesma atendeu a porta, foi surpreendida pelo o invasor, assim, ela o matou e quando Ana foi ver o que aconteceu, foi apagada e jogada ao local do crime. A mancha de sangue no uniforme foi apenas uma tentativa dela apagar suas digitais. Logo, se trancou na cozinha, onde tentou se lavar e se livrar do sangue e esperou seu marido chegar.

Depois de dizer isso, olha para Gustavo e pisca seu olho direito. Agradecendo por ajudá-lo. Pois, minutos depois, havia dito a seguinte teoria: "A mulher tem motivos para matar o marido, mas pode ser que o invasor tenha chegado antes. Afinal, nenhum deles, menos ela, viu esse assaltante vivo".
As autoridades prendem ela e eles saem, vão para o carro e se dirigem ao departamento de polícia.


- Isso foi demais. - diz Gustavo.
- Esse foi seu primeiro caso?
- Sim. 
- Agiu bem. Boa lógica.
- Obrigado... Estou aprendendo com o melhor.
- É. Eu sei disso.