Protocolo Heróis | Capítulo IX - Família



O que leva as pessoas a esconderem segredos? Proteger? Medo de afastar outros? Perda de confiança? Não. Isso acontece por medo. Medo de outros descobrirem suas falhas. E muitas vezes, isso dói mais do que a verdade.

- Então, qual o plano? - pergunta Guilherme.
- Vamos contratar ela. Aí descobrimos quem ela é. - responde Jéssica.
- Um plano bem simples. Simples demais. Qual interesse nisso?
- A possível certidão de nascimento dela estava na minha casa. Ela já me salvou uma vez sem motivo algum. Tenho que descobrir quem é ela.
- E você vai contratar para matar a Ruth? Você sabe que ela ainda é do Protocolo, não é?
- Ela é a pessoa mais perigosa que eu conheço. Duvido ter dito uma agente tão perigosa quanto ela nessa sede.
- Na verdade, teve.
- Quem?

Guilherme começa a abrir os arquivos de agentes dos Maias. E ele abre na...

- Essa é a Speed. Foi uma agente, mas foi expulsa e retirada as memórias após matar uma pessoa durante uma missão.
- Speed?
- Sim. O nome verdadeiro dela foi apagado dos nossos registros por questão de segurança. Ela hoje tá numa cidadezinha no Nordeste do país. Enfim, vamos botar o plano em prática.

Ele começa a abrir os arquivos até chegar na Darckweb, na aba para contratar Valete.

- Okay. Aqui tá pedindo o nome e o método de morte.
- Bota: Morte lenta.
- Pronto. Horário?
- 20 horas.
- Feito. Agora só realizar o pagamento.

Jéssica tira o cartão de crédito da bolsa e dá para Guilherme, que logo rir em seguida.

- Eles não usam essa forma de pagamento. Eles usam uma moeda digital. Para ser difícil de serem rastreados.
- Como sabe tanto?
- Já usei alguma vezes... Para rastrear minha mãe.
- Você nunca me falou dela. Na verdade, eu achava que você era filho da Verônica.
- Não. Ela apenas cuidou de mim e do meu irmão. Nunca soube quem realmente é minha família.
- "Apenas"? "Realmente"? Família é quem cuida, protege e ama. Pode não ser de sangue, mas Verônica é uma mãe também.
- Você tem razão.

Guilherme realiza o pagamento e aparece a notificação de confirmação.

- Pronto. As 20 horas Ruth será uma pessoa morta.
- Não diz isso. Vamos, temos apenas uma hora.
- Certo.

No outro lado da rede. Em um local escuro, um jovem ver a notificação.

- Valete. - diz ele com sua voz um pouco rouca. - Novo serviço.

Das sombras aparece uma jovem que pergunta:

- Quem é o próximo?
- Na verdade, é próxima; Ruth.

Ela olha a foto e diz:

- Isso será divertido.

Voltando para Jéssica...
Ela vai junto com Guilherme, encontrar Ruth. Entram no galpão e não veem ninguém.

- Chegamos tarde? - pergunta Guilherme.
- Ainda faltam 10 minutos. - diz Jéssica.

Enquanto eles entram, algo os acompanha. Guilherme ouve algo e olha discretamente para trás, que ver algo correndo para cima deles.

- JÉSSICA. CUIDADO.

Guilherme abraça Jéssica e Õkami pula em cima deles... Ele cheira ambos e lambe o rosto de Jéssica.

- Lobão! - diz Jéssica.
- Você conhece ele? - indaga Guilherme assustado.
- Sim. Ele é o lobo que quase matamos.
- O humano multado?
- Sim.
- Uau. Posso estudar ele?

Õkami se levanta e diz:

- Ruth pediu para ser gentil com a senhorita. Mas estou me segurando para não devorar a cabeça de seu amigo.
- Meu Deus. Você fala?

Õkami suspira forte para Guilherme e vira para Jéssica.

- É bom revê-la. Mas o que lhe trás aqui?
- Eu precisava falar com a Ruth.
- Sobre qual assun...

Õkami para de falar e suas orelhas ficam mais atentas.

- Algum problema? - pergunta Jéssica.
- O coração dela... Está acelerado demais.
- Onde ela está?
- Alguns quarteirões daqui.
- Uau. Você consegue ouvir os batimentos cardíacos dela daqui? - pergunta Guilherme. - Incrível.
- Eu vou ajudá-la. - diz Õkami.
- Espera. - diz Jéssica. - Vamos com você.
- Subam. - diz Õkami se abaixando.
- Sério? Nossa que demais. - diz Jéssica subindo em suas costas.
- Olha, eu não acho muito seguro... - diz Guilherme.
- Não temos tempo. - diz Õkami jogando Guilherme em suas costas. - Se segurem.

Õkami fica sobre quatro patas e corre em direção a Ruth. Correndo e pulando por cima dos prédios, ele segue o som do coração de Ruth, até que chega nela. Eles veem ela lutando com outra pessoa; Valete. Ele pula até elas e tenta ajudar, mas Valete desvia e volta a atacar Ruth.

- Ruth, pega. - diz Jéssica jogando um dos tessens para ela.
- Jéssica? - diz Ruth pegando o tesssen.

Ruth começa a contra atacar. Então Valete pega seu bastão e elas começam a disputar. Jéssica e Õkami tentam se meter, mas Valete se concentra somente em Ruth. Afinal, ela foi paga para isso.

- É inútil. Essa mulher é muito rápida. - diz Jéssica.
- Ruth é a única que é palio a palio com ela. - diz Õkami.

Ruth para de atacar e começa a se defender. Com alguns movimentos, ela se abaixa e com o tessen, parte a máscara de Valete... Que revela sua identidade. Jéssica ao ver o rosto dela, se sente olhando para um espelho.

- O que? - indaga Jéssica.
- Jéssica!? - pergunta Ruth.

Valete fica calada e penetra uma faca na barriga de Ruth e gira o pulso enquanto diz em seu ouvido: "Morte lenta" e depois disso, sai.

- RUTH! - grita Jéssica.
- MUSUME! - grita Õkami. - Eu vou matar aquela mulher.
- Calma. Precisamos levá-la ao um hospital.
- É uma hemorragia interna. - diz Guilherme. - Temos que levá-la para a sede.
- Não... Não confio neles. Vou levá-la ao o hospital.
- Olha, a não ser que tenha um plano de saúde. Ela vai morrer nas mãos dos médicos. Se não quer levá-la a sede, vai perdê-la.

Õkami rosna para Guilherme, mas ao ver Ruth sangrando, diz:

- Diga o caminho.

Jéssica pega Ruth no braço e sobe nas costas de Õkami. Guilherme sobe em seguida e vai dizendo o caminho. Eles pegam o caminho do laboratório, que é pelo túnel de carros. Chegando lá, Guilherme leva Ruth para a enfermaria, enquanto Jéssica fica no laboratório com Õkami.

- Ela vai ficar bem. Aqui cuidarão bem dela. - diz Jéssica ao tentar consolar Õkami.
- A garota... Parecia muito com você. Quem era?
- Eu não sei.

Jéssica tira a metade da máscara de Valete da bolsa e Õkami pede para farejar.

- Vai atrás dela?
- Sim.
- E o que vai fazer? Matá-la?
- Ela quase matou a Ruth. A mesma guria que me salvou.
- E vai retribuir isso matando outra pessoa? A Ruth pode até ser uma assassina. Mas se ela viu algo bom em você, deveria preservar isso.

Õkami abaixa a cabeça e Jéssica continua:

- Você pode ir atrás dela comigo? Não garanto vingança, mas sim, minha gratidão.
- Suba. Estou ouvindo alguém vindo.
- Okay.

Jéssica sobe e eles saem por onde entraram.

- Jéssica, você viu a Sophia? Eu tinha... - diz Ilidan entrando no laboratório. - Que estranho. Podia jurar que ela estava aqui... Eu tô ficando doido.

Õkami fareja a máscara de Valete e ele vai seguindo o faro. Enquanto Jéssica fica buscando respostas em seus pensamentos, juntando as peças do quebra-cabeça. Mas, ao mesmo tempo ignorando a possibilidade mais óbvia. Por medo? Talvez. Afinal, é normal temer o desconhecido.

- Chegamos. - diz Õkami.

Eles param em frente a uma estação de metrô abandonada.

- Não sabia que a cidade tinha metrô. - diz Jéssica.
- Essa cidade esconde muitas coisas.

Eles descem e seguem a luz que havia no lugar. Quando de repente, uma lâmina é atirada em direção de Jéssica.

- Para uma assassina. Você é bem descuidada. - diz Õkami segurando a lâmina.
- Não esperava meu reflexo no local. - responde Valete.
- Eu não vim brigar. - diz Jéssica. - Você me conhece?
- Saia.
- Por favor.
- Consegui outra másca... - diz o jovem que trabalha com Valete. - Eu vou parar de comer comida tailandesa.
- Vai pra casa, Jéssica.
- Não sem resposta.

Jogando várias laminas que tinham um formato de carta, tenta expulsar Jéssica. Mas, graciosamente, ela desvia e com movimentos leves, consegue revidar. Pegando uma das laminas e jogando de volta, arranhando seu rosto.

- Acho que tá na hora de você contar. - diz o jovem.
- Okay...
- Bom, vou entrar.
- Matheus.
- Sim?
- Pega o trem.
- Certo.
- O que? - pergunta Jéssica.
- Vamos explicar para você. Eu e o seu... Quer dizer, nosso pai.
- Ele sabe?

Um vagão de trem aparece. Eles entram e Jéssica nota a quantidade de tecnologia presente nele. Matheus vai conduzindo eles até a casa delas.

- Esses túneis passam por toda cidade. - diz Matheus. - Chegaremos em alguns minutos.

Valete se senta em um dos acentos e Jéssica se senta ao lado.

- Valentina?
- Afinal, como descobriu?
- Só liguei alguns pontos. Então, somos irmãs?
- Isso tá, literalmente, bem na cara. Não acha?
- Desculpa. - responde Jéssica sem jeito.

Elas ficam caladas, até que Jéssica suspira e pergunta, tentando criar um assunto.

- Então, ele é seu amigo?
- Sim. Conheço ele faz muito tempo. Ele me ajuda nas coisas que eu faço.
- Pelo menos você não esteve sozinha.
- Me dá sua mão direita.
- Pra que?
- Me dá logo.

Ela estende a mão e Valete tira a luva e elas veem que tem a mesma marca de nascença. Um sinal em forma de uma asa de borboleta.

- Você também nunca esteve sozinha.
- O que?
- Sempre estive lhe protegendo. Desde dos seus dez anos, até suas missões.

Jéssica abraça Valete, que por momento, não sabe reagir. Mas logo retribui o abraço.

- Chegamos. - diz Matheus.
- Okay. Espere aqui. - diz Valete.
- Certo.
- Vai ficar, lobão? - pergunta Jéssica.
- Sim.

Jéssica e Valete saem do trem e sobem por uma escada que levava em uma boca de bueiro. Matheus fica sozinho com Õkami no trem, até que ele diz:

- Eu esperava mais ação. A proposito, prazer, Matheus.
- A sua amiga quase matou uma pessoa importante pra mim. Agradeça por ainda está respirando.
- Opa.

Quando as meninas sobem até a rua. Valete pergunta:

- Pronta para saber a verdade?
- Sim.

Jéssica abre a porta e logo vem seu pai dizendo:

- Finalmente você chegou, eu estava prepara... Valentina?
- Valete, pai.
- Jéssica...
- Pai, precisamos ter uma conversa.

Elas entram e se sentam no sofá.

- Então você já contou?
- Na verdade, ela que descobriu.
- Como?
- Por favor... Me explica.
- Eu sabia que esse dia ia chegar... 

Ele se senta no sofá de frente a elas e continua:

- Começou antes de vocês nascerem. Quando sua mãe estava grávida, estávamos passando por muitos problemas. Além de financeiro, eramos constantemente ameaçados por uma gangue. Mas isso muda quando uma mulher vem aqui em casa, com um líder de um grupo... De assassinos. A mulher não revelou seu nome, mas o homem sim. Era o Rony. Ele prometeu livrar-se da gangue, em troca da filha que iria nascer. No tempo não sabia que era gêmeas. Eu recusei, mas o destino veio a me forçar a aceitar quando a gangue ataca sua mãe enquanto eu estava no trabalho. Quando cheguei, estava a casa destruída e ela no chão, sangrando e com marcas de agressões por todo o corpo. Levei as pressas para o hospital e por milagre, o bebê estava vivo, que no caso, descobrimos que eram duas. No hospital, encontrei novamente a mulher, oferecendo novamente o acordo, o desespero veio a me fazer concordar. Ele até que era um homem bondoso, apenas queria uma herdeira. Então, vale mais uma filha do que nenhuma filha.
- Mas por que não me contou isso?
- Porque quando fiz meus dezesseis anos. Tentei voltar. - diz Valentina. - Mas já era perigoso demais meter vocês nesse mundo que vivo. Era o mesmo como botar um alvo em suas costas. Mantive contato com o papai, mas preferi não envolver você nesse assunto.

Jéssica se levanta e olha para a Janela.

- Está chateada, filha?
- Não... Vocês não foram os únicos que esconderam algo.
- Como?
- Valentina... Hoje mais cedo. Fui eu que contratei você. Uma forma de achá-la.
- O que!?
- E pai... Eu não estou fazendo um estágio como você pensa. Eu sou uma agente especial. Trabalho para uma organização secreta...
- ... Os maias.
- O que? O senhor sabia?
- Você fala dormindo. Achei que era coisa da sua cabeça. Mas tive que repensar isso quando vi você em cima de um lobisomem.
- O senhor viu isso também?
- Quem diria, minha duas filhas... Duas heroínas.

E ele as abraça e os olhos de todos começam a se encher de lágrimas.

- Desculpem por manter segredo de vocês. - diz Jéssica.
- Quem somos nós para dizer alguma coisa. - diz Valete.
- Tenho que ir. Minha amiga ainda está na enfermaria.
- Sua parceira? Quer saber? Quando voltar você me diz suas histórias.
- Certo. - responde ela animada.

De repente, algo é jogado pela janela e quando Valentina ver... É uma bomba.

- SE ABAIXEM.

Ela pega eles e se abaixam e com o impacto da explosão, são jogados para dentro da casa. 

- Estão todos bem? 
- Sim. - respondem.

Se levanta e ver alguém entrando pela abertura criada na parede... Olhando mais fixamente, depois da fumaça abaixar, ela ver que é um antigo inimigo.

- Desculpem... Atrapalhei alguma coisa? - diz ele calmamente.
- Victor... O que foi? Não conseguiu me esquecer?
- Você vai pagar, sua-

Davi tenta se levantar e Victor ver que tinha uma menina idêntica a ela, acompanhada de seu pai.

- Ora, reunião familiar.
- Sai daqui.
- Só com o seu cadáver.

Rapidamente, Jéssica joga um de seus tessens nele, que desvia, mas não vendo o outro que foi jogado logo depois.

- Seu amigo?
- Digamos que... Meu ex.
- Curte meninos perigosos?
- Haha...
- Juntas?
- Sempre trabalhei sozinha, isso pode ser divertido.

Elas se posicionam para a batalha e Victor parte para cima delas. Desviando dos golpes, Valete dá espaço para sua irmã atacar, deixando-o com a guarda baixa. Pegando impulso com sua irmã, Jéssica acerta ele com vários golpes, sem se preocupar em se defender, apenas em derrotá-lo. Então, elas juntam as mãos e batem juntas no peito dele. Jogando-o fora de casa.

- Eles virão atrás de você. - diz ele se levantando e correndo. 
- É, claro que vão.

Ela joga uma agulha que acerta sua nuca, fazendo-o cair logo em seguida.
A polícia e os bombeiros chegam logo em seguida, então Valentina corre para o bueiro e Jéssica ajuda seu pai, levando ele para as autoridades, para ser cuidado.

- Ela se tornou bem forte.
- Vocês duas. - diz Matheus, sai vendo a situação pela boca do bueiro.
- Vamos. Lobo, quer ir com a gente?
- Irei seguir Jéssica, obrigado.

Ele sai, deixando Valete e Matheus sozinhos, voltando para a estação.

- Agora é você que não está mais sozinha. - diz Matheus.
- Nunca estive. Eu tava com você, bobo.

Mais tarde, naquela noite, depois de deixar seu pai a salvo, Jéssica volta para a sede com Õkami, para buscarem Ruth, chegando lá, Õkami fica no laboratório enquanto ela corre para enfermaria. Entra e ver Ruth deitada na cama.

- Oi... Olha me desculpa.
- Por contratar uma assassina de aluguel, não tão boa, para me matar?
- Achei que seria mais complicado.
- O Guilherme me explicou. Pode me tirar daqui? Antes que seus amigos cheguem?

Jéssica estende os tessens para Ruth e diz:

- Toma. São da sua mãe mesmo.
- Agora são seus. Você merece.
- Sério? Por que?
- Intuição. Sara já fez o que tinha que fazer comigo, pode por favor me tirar daqui?
- Conheceu a Sara?
- JÉSSICA.
- Ta bom, ta bom.

Jéssica apoia Ruth em seu ombro e a leva ao laboratório.

- Desculpa, de novo.
- Tudo bem. Até mais, pirralha.

Ruth sobe na costas de Õkami e eles saem.

No escritório de Verônica, ela observa tudo pelos monitores.

- Quem diria que seu plano ia funcionar. - diz ela.
- Eles tem potencial. - diz Amanda.
- Vamos mandar uma equipe para a manutenção da casa de Jéssica.
- Ótimo.
- O que houve? Parece preocupada, minha amiga.
- Só acho que meu tempo está acabando.

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Nem mesmo o vidente ver onde pisa.