Sonhos de Lua [Especial Halloween]

Já é tarde da noite, as meninas estão dormindo e enquanto eu dirijo, Rick fica do meu lado conversando. Nos mantendo acordados, já que não conseguia achar nenhum lugar para estacionar o trailer, apenas estrada.
 
- Cara. - diz ele. - A gente se perdeu?
- Não... Você viu o mapa direito? - pergunto, pois nossos celulares descarregaram e nosso meio de navegação é o mapa.
- Claro. - responde ele abrindo-o novamente. - Viu, éramos para ter entrado na BR meia hora atrás.
 
Eu olho para o canto do mapa e quando percebo, freio de uma vez, com a inércia fazendo a gente se jogar um pouco para frente. Comigo quase batendo no volante e ele no para-brisa.
 
- RICK! - grito.
- O que? - indaga ele confuso.
- O mapa... Tá de CABEÇA PRA BAIXO!
 - Não tá não... - diz ele, mudando o tom na última palavra, vendo que realmente estava. - Olha o lado bom... É só fazer o oposto que fizemos até agora e voltamos.
- Eu vou te matar!
 
Ele abre a porta do trailer e corre, comigo atrás, dando voltas ao redor do veículo. No meio do nada, apenas com os gritos dele ecoando. As meninas acordam e olham confusas a situação.
 
- Vocês dois. - diz Lena. - Parem AGORA!
- O que tá acontecendo? - pergunta Cristal, com voz de sono.
- Esse animal sem calda fez a gente se perder. - digo com ódio nas palavras.
 
Todos olham perplexos para mim quando termino de falar. Rick muda a expressão, ficando com um olhar mais assustado. Okay, eu exagerei
 
- Okay, vamos parando. - diz Cristal indo até mim.
- Vão acabar acordando a Luana. - continua Lena, ajudando Rick a se levantar.
- Foi mal. - digo.
- Tudo bem... - responde ele, mas com um tom que notei que não estava nada bem.
- Olha cara—
 
Antes que eu termine, ouvimos um som vindo do trailer. Como se estivesse se mexendo algo em baixo dele. Meu Deus, a Luana!
Corremos para ver se ela tava bem, quando entramos, vimos ela levantada olhando para a janela. Quando nota nossa presença, começa a dizer algo em libras. "Ela disse que viu algo lá fora" diz Lena, com uma voz meio aflita.
Por um segundo, achei que poderia tá se referindo a gente, mas a janela que ela estava olhando era o oposto no qual estávamos. De repente, o trailer treme novamente, Luana corre para os braços de Cristal e ouvimos passos do lado de fora. Eu, Rick e Lena saímos as pressas para ver o que era, mas não vimos nada quando chegamos no lado de fora.
 
- Roubaram os... Pneus? - diz Lena, sem acreditar na frase que acabou de dizer.
- O que!? - indagamos.
 
Ela liga a lanterna de seu celular e se abaixa. De fato, os pneus sumiram, os ladrões foram ágeis para tirar todos os seis tão rápido... Que estranho.
 
- Que estranho. - diz ela. - Rick, pega a chave. Vamos pegar os reservas para sair daqui logo.
- Acho que não vai ser necessário, meu bem. - responde ele.
- Por que?
 
Ele aponta para o porta-malas, assustado, pois estava semiaberto. Abrimos e os pneus haviam sumido também.
 
- Ladrão de pneus? - indaga Rick. - Essa é nova.
 
Lena ver uma mecha de cabelo que ficou preso na tranca, pega com cuidado e diz:
 
- É, tamos que ir atrás.
- QUE!? - indago na mesma hora.
- Não podemos ficar aqui até o amanhecer. - diz ela, abaixando a luz da lanterna, mostrando pegadas pequenas.
- Bora. - diz Rick animado. - Vamos pegar esses "ladrõezinhos".
 
Cristal desce com Luana e Lena diz que precisamos ir atrás desses ladrões.
 
- E a Luana? - pergunto.
- Bom, se levarmos será perigoso. - diz Lena.
 
Luana educadamente levanta sua mão, pedindo permissão para opinar sobre isso. Aceitamos e ela começa a fazer os sinais e dessa vez, Rick que traduz... "Se me permitem dizer, particularmente acho que, mesmo ficando acompanhada, permanecer nesse meio de estrada seria bem mais perigoso".
 
- Okay, vamos levar você. - diz Cristal beijando-a no pescoço. - Mas não saia de perto da gente.
 
As meninas entram para se trocarem, já que ainda estavam com roupas de dormir. E do lado de fora, fica apenas Rick e eu. Me sento em um tronco derrubado que estava perto e olho para a lua. Ele fica mais afastado olhando pra mesma.
 
- Cara, desculpa. - digo.
- Já disse, tá tudo bem. - responde ele, parecendo querer fugir do assunto.
- Qual é, eu te conheço.
- Não conhece não. - diz ele com um tom de brincadeira. - Que número eu tô pensando?
- Ai, Rick. Por favor, né?
- Tenta, vai.
- Nenhum. Tá pensando que a lua parece um pão de queijo.
- ... Chato. Mas, tá... Eu estava cansado. Me mantive acordado pra fazer companhia para o meu melhor amigo, pra no fim, ser chamado de "animal sem calda". Okay, meio bobo, mas sei lá, você falou de um jeito...
 
Por mais que nós sejamos melhores amigos, nós nunca nos xingamos. Ambos se sentem incomodados com esses palavreados. Então, ele nunca falou nada comigo, nem eu com ele... Quer dizer, até hoje.
 
- Não foi minha—
 
Sou interrompido por as meninas saindo do trailer. Rick vai até Lena, enquanto Cristal e Luana que também estavam com suas lanternas. Ficamos um pouco atrás, pois queria conversar com Cristal.
 
- Eu vacilei, né? -  pergunto.
- Sim. - responde ela rapidamente. - Vocês são melhores amigos. Você tava de cabeça quente, eu entendo, mas acabou descontando nele.
- Desculpa... É que... Não sei o que me deu. Foi uma viagem cansativa e—
- Você não é de ferro, Rapha. Somos humanos, relaxa. O Rick é uma pessoa extremamente empática, ele vai entender. Assim como você devia entendê-lo.
- Tem razão.
- Quando não tenho, né? - diz ela de forma suave, me dando um beijo na bochecha.
 
Sorrio e ela olha para as pegadas, dizendo:
 
- Isso é bizarro. Quer dizer, que tipo de pessoa tem um pé tão pequeno?
- Talvez alguém com nanismo?
- Nem os pés da Luana são desse tamanho. - diz ela apontando a luz para os pezinho de Luana. - E ela só tem 8 anos. É... Sei lá... Perturbador se parar pra pensar...
- Em fantasma? - brinco.
- Vai que...
- Se for, a gente se protege.
- Não ia deixar o fantasma pegar você.
 
Sorrimos um para o outro e entramos mais na floresta.
 
- Alguém mora aqui perto. - diz Lena.
- Como sabe? - pergunto.
- As árvores. Algumas estão cortadas. E no chão tem marcas de como se arrastassem algo.
 
Andamos mais um pouco e paramos na frente de um portão. Enorme, que bloqueava a passagem para um casarão logo em frente.
 
- É... - digo, suspirando forte.
- Isso... Assim... Realmente precisamos dos pneus? - pergunta Lena.
- Exatamente. - completo. - Podemos dormir e de manhã ligamos para as autoridades.
- Perfeito. Vamos. - diz ela dando meia volta e eu logo atrás dela.
- Você eu não me surpreendo. - diz Cristal segurando meu braço. - Mas você, Lena? E seu treinamento militar?
- Meu treinamento não inclui casas no meio da floresta. Além do mais, deve tá trancada. Não podemos invadir sem um mandato.
 
Rick empurra levemente e o portão se abre.
 
- ... Filho da mãe. - diz ela indo na frente.
- O que houve, amor? - pergunta ele.
- Nada... Nada...
- Tem certeza?
- É que... Okay. Lembram quando a gente se reunia pra assistir? E eu nunca concordava quando era de terror? Bom, eu nunca assisti um filme de terror na vida.
- Pera... Sério? - pergunto.
- Sim. Eu sou uma boba medrosa. Só de pensar em entrar nessa casa, sei lá... O medo sobe de um jeito...
- Não é não. - diz Rick. - Você é a mulher mais corajosa que eu conheço.
- Isso mesmo. - diz Cristal. - O Rapha é um medroso e ninguém julga.
- Ei! - exclamo.
- Enfim. Você já demonstrou muitos atos incríveis. Um medinho desse não muda quem você é.
- Exatamente. - digo. - Não se sinta menos do que isso.
- Obrigada.
 
Ficamos próximos dando apoio para Lena. Rick a beija na bochecha e diz algo em seu ouvido, que logo depois soltam uma risada. Andamos mais um pouco, na calçada que cortava o jardim em frente a casa. Luana olha para as plantas e puxa meu dedo mindinho, apontando para algo no chão. Parecia como se algo tivesse sido enterrado ali, com uma elevação estranha.
 
- Gente... - digo me aproximando do jardim.
- O que foi, meu bem? - pergunta Cristal.
- O que é aquilo...
 
Quando toco na grama, pra andar em direção ao que vi antes, algo sai do chão e segura meu pé. Todos correm para me ajudar e veem que é uma mão. Me puxam de volta para a calçada e mão vem junto com meu pé. Rick tira e joga longe.
 
- Chega. Vamos voltar. - diz ele. - Melhor perder um pneu do que um de nós.
- Vamos. - completamos.
 
Corremos para o portão mas vindo da floresta, olhos brilhantes nos observam, saindo vagarosamente, sendo iluminados pela luz do luar, vimos que são...
 
- Marionetes!? - diz Lena de forma assustada, quase gaguejando.
- Eu não acredito nisso. - diz Cristal.
 
As portas do casarão se abrem e os bonecos começam a correr em nossa direção. Pego a mão de Luana e Cristal e todos corremos para dentro da casa. Quando entramos, caímos no chão. Rick levanta rapidamente fecha as portas e Cristal logo depois, botando um móvel na frente. Depois só ouvimos os marionetes se chocando com o impacto.
 
- O que foi isso? - pergunta Lena com a voz trêmula.
- Eu não sei. - diz Rick indo até ela, ajudando-a se levantar. - Alguma pegadinha?
- Não deve ser. - diz Cristal.
 
Me levanto e ajudo Luana a se levantar também. Olhamos ao redor e vimos que o salão está iluminado pela luz do lustre. Deixando a vista o lugar bastante bonito, mas bem empoeirado. Com uma escada enorme no meio, levando para o andar de cima.
 
- O que fazemos agora? - pergunto.
- Eu não faço a menor ideia. - diz Cristal. - O lugar é... Assombrado?
- Uma mão agarrou o pé do Rapha e brinquedos correram atrás da gente. - diz Lena. - Pode ser computação ou de fato assombrado. Enfim, as pegadas vieram até aqui... Pera.
- As pegadas eram dos bonecos. - diz Rick. - Então foram eles que pegaram nossos pneus. Pra que?
- Se forem, sei lá, robotizados. - digo. - A pessoa que controla deve tá aqui.
- Vamos ter que achar ele. - diz Lena. - Fiquem próximos.
 
Andamos até a escada para subirmos para o andar superior. Onde vimos um corredor longo e cheio de portas. Essa parte da casa não era tão bem iluminada, então ligamos nossas lanternas de novo. Luana aperta a minha mão e a de Cristal com força. Ficamos perto dela, um de cada lado, mas a expressão de assustada dela me parte o coração.
 
- Onde ele deve tá? - pergunto. - Vamos sair daqui logo.
- Tem cinco portas. - diz Lena. - Qual vocês acham?
- Se separar não é uma opção. - responde Rick. - Vamos um por uma, é o jeito.

Formos até a primeira e entramos. Era um grande quarto com uma cama de casal no meio. Alguns quadros de um casal e dois filhos, pintados em aquarela. O lugar estava muito bem arrumado. Olhamos por todo o local a procura de um sinal de vida, mas nada. Rick olha a janela, que olhando para baixo, dava para ver se os bonecos ainda estavam lá. "Sumiram" diz ele.
 Cristal abre o guarda roupa e não acha nada, além de roupas do século passado. Longos vestidos, mas nada além do que isso.
 
- Vamos para o próximo. - digo.
- Okay. - dizem.
 
As lanternas se apagam por um segundo e as luzes do quarto acendem. Quando isso acontece, os quadros estavam diferentes. Com os olhos das crianças riscados e o da mulher no lugar dos olhos, estava apenas um buraco branco. Nos assustamos de imediato e corremos para a porta, passando Lena, Rick e eu, que seguro a mão de Cristal, que segurava a Luana. Mas, algo puxa a garotinha e Cristal volta. E a porta de fecha de uma vez.

- CRISTAL! - grito batendo na porta para derrubar.

Rick e eu tentamos chutar com mais força, mas ouço os gritos delas, pedindo socorro... Chamando pela gente, sendo abafados por algo. Quando finalmente conseguimos, o quarto estava vazio de novo. Com os quadros normais e o lugar perfeitamente arrumado. Vasculho cada parte dessa porcaria de quarto, mas nada. Nenhum sinal delas duas. Droga, droga, droga...

- Ei. Vamos achá-las. - diz Lena tentando me consolar.
- Vamos ficar juntos. - diz Rick.
- Se algo acontecer com elas... - digo quase que chorando.
- Não vai.

Noto medo na voz de Lena, mas mesmo assim bem confiante. Saímos do quarto e entramos na segunda porta. Agora, um quarto diferente. Com duas camas nos cantos. Uma TV ligada e várias manchas de sangue pelo quarto.

- O que que aconteceu aqui? - pergunta Rick perplexo.
 
A televisão começa a passar algo... Um vídeo em preto e branco de uma mulher robotizada, em pé em uma cozinha. Vestindo uma rouba branca. Diz algo que de fato não conseguimos entender. Olha para a câmera e se senta... Em silêncio. Pega um prato cheio de larvas e começa a comer, comer, comer... Até elas saírem pelos seus olhos e ela caindo no chão. Muda a cena para duas crianças, dois meninos, de frente uma para o outro, em pé e parados. Se sentam e deitam para a barriga para cima. Muda de ângulo e mostra elas olhando para a câmera... Sorrindo. Se levantam e andam por um bosque, onde linhas se prendem em seus pulsos e eles dizem algo em conjunto que também não entendemos e a TV desliga sozinha.
Olho para Lena e ela está imóvel, com pânico em seu rosto. Tenta dizer algo, mas as palavras não saem. Rick chega perto dela, tentando acalmá-la, mas ela está em um estado de tremendo desespero. Começa a sair lágrimas de seus olhos, mas sem mudar a expressão. Logo depois, perde o equilíbrio e cai no chão.

- Ei, amor. - diz Rick. - Ei, fala comigo.
- E-Eu... - tenta dizer algo, mas não sai.
 
As luzes do corredor acendem. Rick põe ela no braço e saímos, mas ao atravessarem a porta, dois menininhos pulam em cima da gente rapidamente. Ficamos em desespero, tentando nos soltar deles. Me bato na parede e ele pula de cima de mim para Lena, puxando ela dos braços de Rick. Que tenta resistir, mas a segunda criança nos joga para longe com algum tipo de impulso sobrenatural. Nos levantamos rapidamente, mas eles desaparecem entrando na terceira porta.
Ele vai com ódio nessa porta, chutando-a para abrir. Atravessámos ela e paramos... Na sala?
 
- O que? - indago.
- Que que foi isso? Lena... Droga. O SEU INFELIZ, CADÊ VOCÊ. DEVOLVE ELAS SE NÃO EU JURO QUE MATO VOCÊ.
 
Ouvimos um riso ecoando por todo o salão. Um som de piano é ouvido... Tocando um música até que animada, lembrando um ritmo infantil, mas com a melodia um tanto que tenebrosa. E uma voz, rouba dizendo nesse mesmo ritmo... "Vamos nos apresentar crianças." e várias bonecas aparecem ao nosso redor, no alto da escada vemos um homem. Com a boca costurada e olhos negros, usando uma cartola em sua cabeça e um terno preto.
 
- Você... Foi VOCÊ QUE PEGOU MINHA NAMORADA E MINHAS AMIGAS. - grita Rick indo até ele.
 
Fico sem reação, pois tudo aquilo parecia muito estranho. Seguro seu braço e digo para o homem.
 
- O que quer?
- Vocês. - ouvimos ele dizer, mesmo com sua boca costurada.
 
Ele anda vagarosamente até nós, e ouvimos:
 
- Minha mulher morreu a alguns anos. Desde de então, procuro pessoas que possam revivê-la. Eu tentei de tudo... Peguei até meus próprios filhos... Mas, não eram maduros os suficiente...
- Que tipo de monstro é você? - pergunto.
- Monstro? Eu só queria ver minha mulher amada novamente. E fiz o que qualquer homem apaixonado faria. Ofereci minha alma... Mantive ela viva... Mas como uma boneca... E suas amigas serão perfeitas para novas hospedeiras para minha mulher.
- Nem ouse tocar nela. - diz Rick furioso partindo para cima do homem.
 
Mas, sua boca sai das costuras e é visto enormes dentes, que mordem sua mão. Corro para ajudar ele, mas o homem joga Rick em mim e apagamos... A única coisa que ouço antes é "Levem-nos para a remoção".
Quando acordo, estou preso em uma maca. Com as mãos e pés amarrados. Mais a frente vejo as meninas em pé, amarradas com suas mãos ao teto, desacordadas. E mais na frente, um corpo feminino, sentada e ligada a um motor a lenha... É claro, ela estava viva por esse motor... Por isso as árvores estavam cortadas.
Olho para o meu lado e vejo Rick. 
 
- Desculpa. - diz ele. - Se eu tivesse lido aquela porcaria de mapa direito.
- Me desculpa também. Não devia ter dito aquilo com você.
- Eu mereci...
- Claro que não. Nunca se diz algo assim para o melhor amigo.
- Eu não quero perder vocês, Rapha. - diz ele quase chorando.
- Não vai, vamos dá um jeito nisso.
 
Ouvimos o homem dando passos em nossas direções. Soltando a Cristal, jogando-a no chão e levantando pelo cabelo.
 
- Ô SEU DESGRAÇADO. - grito furioso. - SOLTA ELA.
 
Ele permanece calado, botando ela em uma caixa.
 
- Sua namoradinha será o primeiro molde.
- O que vai fazer?
- Isso não será necessário para você saber. - diz virando o rosto pra mim, dando um sorriso.
 
Tampa a caixa e sai de perto, levando-a para o outro cômodo.
 
- Temos que sair daqui. - digo tentando me soltar.
 
Puxo meus braços e fico me mexendo com força para ver se as cordas se soltam. Rick faz o mesmo, mas consegue soltar a mão direita. Usa ela para soltar o restante e vem até mim, me soltando também.
 
- Tira a Lena e a Luana daqui. - digo. - Eu vou atrás da Cristal.
- Logo chego pra ajudar. - diz ele.
 
Saio da maca e pego uma barra de ferro indo para o corredor que o homem pegou. Mas antes que eu passe da porta, ele aparece me jogando pro outro lado do cômodo que eu estou. Ficando maior, e com a boca descosturando novamente ele diz de forma macabra:
 
- Você será um ótimo corpo. Depois que eu engôli-lo.
- Vê se engole isso. - diz Rick pulando por trás dele.
 
Eu pego a barra de ferro e perfuro o peito dele, mas da ferida saí diversos insetos, que consomem a barra. Com sua mão pega Rick e o joga no chão. Indo para cima de mim. Corro até para fora daquele lugar, indo pelo corredor. Ouço apenas ele destruindo todo o local. Procuro pensar em um plano, mas nada me vem pela cabeça. Até que Rick aparece na minha frente e me puxa para dentro de um dos quartos, tampando minha boca.
Ouvimos os paços vagarosos, indo de um canto a outro.
 
- Não vão fugir de mim. - diz o homem atrás da gente.
 
Nos assustamos e como defesa, dou um soco em seu rosto. Corremos para fora e procuramos fugir dele. Eu só pensava em achar a Cristal... Mas é claro...
 
- Tive uma ideia... - digo.
- Qual?
- Vamos mexer com a fraqueza dele.
- É claro. Boa, amigão.
- Vai, eu distraio ele.
 
Rick dá meia volta e continuo correndo pela casa. Vou até o jardim, onde vejo ele do lado de fora. Como um aranha gigante na parede, virando a cabeça pra mim e dizendo: "Você é meu". Ando de costas devagar, sem tirar ele da vista. Ficando de pé na minha frente, anda calmamente até mim.

- Você é um monstro... Seus próprios filhos, como pôde? - pergunto.
- Nascerão novos quando eu usar sua fedelha para procriar.

Ele corre pra cima de mim e sinto uma pá no meu pé. Pego e o acerto, tirando de perto novamente.

- O que foi? - diz ele se levantando. - Ficou irritado?
- Não fale dela.
- Oh, um homem apaixonado... Isso é bom... ASSIM FICARÁ MAIS DIVERTIDO.

Ele vem novamente, e acerto-o de novo, mas dessa vez ele segura meus braços e me segura. Abre sua boca, pronto para me devorar, ouvimos Rick gritando:

- Ô, GEPPETTO. OLHA AQUI.

Olhamos para a porta da casa e vemos ele segurando a boneca da mulher do homem.

- Solte-a agora. - diz o homem me soltando e indo para o Rick.
- Na-na-não... Deixe-nos sair. Ou... - responde Rick mostrando uma faca presa no pescoço dela.

De trás dele aparece Cristal, segurando Lena e Luana. Que estavam com alguns pneus nas mãos.
 
- Solte-a... Ou seu amigo morre. - diz o homem me segurando novamente.
- Quer mesmo arriscar?
 
Eles se olham por uns segundos e o homem me solta. Eles andam até mim, com Rick segurando-a ainda. Isso até sairmos do portão, onde ele devolve a mulher. Com as luzes acendendo e apagando, ouvimos um grito agonizante e ele sumindo e o portão se fechando com força.

- Valeu, cara. - digo. 
- Nada seria possível se não fosse por sua ideia.

Olho pra Cristal e a abraço fortemente.

- Achei que fosse perder você. - digo.
- Não quero me livrar de você tão cedo, bobo. - responde ela.
 
Luana abraça a gente e digo: "Não vou mais perder você de vista, okay?" e ela concorda, balançando a cabeça levemente.
Seguimos caminho até o trailer. Ainda sem acreditar no que aconteceu. Lena e Rick entram, com ele tentando acalmá-la, enquanto Cristal e eu botamos os pneus de volta.

- Aquilo foi algo demoníaco... - diz ela ainda surpresa.
- Foi... - respondo sem o que dizer.

Terminamos e subimos. Okay, isso foi estranho. Mas como nada na vida faz sentido, isso foi algo que me mostrou como não sou nada sem eles. E só de pensar em perdê-los... Vejo que são as pessoas mais importantes pra mim.
Ligo o trailer e dou meia volta. Rick se senta do meu lado e põe o mapa em pé, brincando comigo. É... De volta a normalidade.