Vizinhos | Capítulo I - Bem vindo

 

 
Oi, prazer. Meu nome é Carlos e eu amo meus vizinhos. Bom, primeiro vou explicar do motivo de eu contar isso do nada e do pretexto de começar minha apresentação assim. Eu poderia simplesmente me apresentar e começar essa história logo... Mas, a história é justamente sobre eles.
Eu moro em um apartamento no centro da cidade. Ironicamente o medroso aqui, que tem medo de altura, fica no oitavo andar... Pois é, eu gosto de me auto provocar ficando na varanda olhando pra baixo. Mas enfim, por que essa história é sobre meus vizinhos? Bom, é o seguinte: Eu me mudei pra cá por conta que comecei a estudar na capital, e já sabe, aquela pessoa nova em uma cidade nova, não conhecia ninguém. Mas, as pessoas do meu andar foram as mais adoráveis possíveis comigo e super acolhedoras. Bom, vou apresentá-los...
 
Começando com João, do 427.
Ele é gente boa, não tenho do que reclamar. É escritor e boa parte do tempo ele tá dentro do apê dele. Geralmente vejo ele pelas manhãs, quando sai para comprar seu café. Sempre me dá bom dia e foi super gentil me mostrando a cidade. As vezes ele me dá carona pra faculdade... Mas eu estou evitando suas caronas por conta dele ser um perigo no volante. Porém, é um ótimo vizinho. Não se mete com ninguém e geralmente tá cuidando da gente quando precisamos. É como nossa bússola moral... Mas se engana não, se ele vier te dá algum sermão, se prepara. Aliás o livro dele é muito bom gente, eu li e não me arrependo. Deem uma olhada clicando aqui.
Mas, vamos seguindo.
 
Renata e Josy, do  428.
Não sei bem se começo falando das duas em conjunto ou individuais... Como meu tio açougueiro diz: "Vamos por partes".
A Renata foi a primeira a me dá boas vindas. É uma garota bem... Intensa. No geral mesmo, se ela tá feliz, tá extremamente sorridente e pulando nos corredores. Quando desanima, é possível chorar junto com ela. É um amor de pessoa. Tá sempre arriscando algo novo, a responsável pelos eventos e por dá cor nas nossas vidas.
Ela mora junto com a Josy (eu ainda não sei o nome dela completo, desculpa). É a mais racional e quieta das duas. Demorou um pouco para fazer amizade com ela, mas quando conheci de verdade, descobri o quão fantástica essa garota é. Geralmente conversamos nos corredores quando voltamos da faculdade. Acredite, não tem um assunto que essa garota não domine. É uma ótima amiga e vizinha. E também, são escritoras. Dá uma olhada na história delas, é bem daora. Clica aqui vai.
Quase sempre vejo eles até tarde no salão do prédio, conversando sobre suas histórias, junto com a Bia... Ah, quem é Bia? Bom, vamos falar dela.
 
Ana Beatriz, do 429.
É a que sempre acompanha a gente nas confusões que a gente faz e geralmente a mais racional também. Sempre preparada e com uma resposta na ponta da língua, cala qualquer um no argumento mesmo... Isso se ela não voar na gente. Não deixa a carinha de neném enganar não. Essa mulher é o perigo. É uma pessoa bem focada nos objetivos, então quando temos que planejar algo de importância, ela vai saber o que fazer.
 
Também tem a Vitória, do 430.
De todas, é a mais misteriosa. Sem brincadeira. Vi ela poucas vezes desde que cheguei aqui. Mas calma, ela não é nenhum tipo de vizinha psicopata. Pelo contrário, ela é bem de boa. Tem um bonito sorriso e tá sempre bem vestida. No máximo, vejo ela quando tem alguma confusão acontecendo e ela tenta ajudar. Mas de resto, tá sempre bem calma e na dela. Seja em evento como no dia a dia.
 
E por último e não menos importante.
Inara Camile, do 431.
Sim, meu andar só tem artista. Ela é a desenhista do prédio. Vejo sempre no salão principal quando vou saindo pra faculdade, criando seus desenhos, tem um belo traço, inclusive. É bem serena boa parte do tempo e quando acontece algo, ela é a que tem mais empatia pela gente, principalmente quando o problema é emocional.
Anda sempre com um caderninho na mão, na espera de alguma inspiração.

É isso, esses são meus vizinhos. E pretendo ver você aqui mais vezes, pois tenho várias histórias para contar sobre eles... Mas, vou deixar elas para outros dias. Hoje vou contar como tudo começou: O dia que cheguei aqui.
 
Isso começou a um ano atrás... Eu acho que foi.
Bom, eu tinha me mudado pra cá por conta faculdade, como vocês já sabem. Mas, essa foi uma viagem que enrolei muito pra acontecer. Motivo? Medo. Eu sou uma pessoa extremamente sensível para mudanças. Para ter uma pequena noção, demorei 18 anos da minha vida para mudar o meu corte de cabelo. Agora imaginei o quão assustador foi mudar de CIDADE.
Entretanto, eu tinha um objetivo a seguir, né? Então eu chutei o balde e fui. Foi uma despedida legal na minha cidade, mas foi bom respirar novos ares por aqui. Quando desci na rodoviária, eu não sabia pra onde ir. Literalmente, eu não sabia o caminho para o prédio. Porque o seguinte, na minha antiga cidade, você chega em qualquer lugar em questão de minutos. Então, quando eu reservei meu apartamento, eu não guardei o endereço, por achar que ia achar bem de boa... MAS NÃO! Nunca vi uma cidade com tanto prédio e pior, TUDO IGUAL MANO. Gente do céu, arquiteto sem criatividade, viu?
Mas é isso. Peguei minhas malas e fui desbravar essa cidade nova. Tentei pedir informação, contudo, ninguém parava pra me ajudar. Não me arrisquei subir no transporte público, vai que me deixava mais perdido que já tava. Então, tentei procurar o site no qual fiz a reserva, só que eu tava sem internet. Andei por horas e eu sentia que logo, logo ia chover. Porém não deixei isso me desanimar. Eu desci rua abaixo e banquei o turista. Tirei foto dos lugares que eu achava bonitos e entrava em qualquer lanchonete pra comer - tinha dinheiro ao menos - e foi onde eu sempre ia buscando informação. Até que em uma delas, uma senhora resolveu me ajudar. Perguntou o nome do prédio e eu respondi. Ela me deu um endereço e corri para pegar um táxi ou um Uber. Mas pobre de mim, a chuva veio antes. Corri todo molhado e sem internet para pedir o motorista por aplicativo, e o ponto de táxi era muito longe, mas era minha única salvação. E aí que as coisas começaram a piorar...
Eu peguei o táxi e entrei, nossa foi um alívio. O motorista foi super educado. Me ofereceu toalha, ligou o aquecedor e foi em direção meu destino. De cara ele já percebeu que eu não era daqui, o que causou uma boa conversa. Me deu as noções básicas da cidade e o seu número, caso eu precisasse de uma carona. Peguei o número e botei no bolso. Mas, faltando pouco tempo para chegar, ele para o carro rapidamente e pede, de forma assustada, para eu ficar quieto. Do nada, outros dois homens abrem a porta e fazem ele descer do carro e se sentam no volante e o no passageiro respectivamente. Acho que me comportei tão bem imóvel, que eles só foram me perceber bem depois.
 
- Ei, tem um cara aqui atrás. - diz o moço que ficou no banco do passageiro.
- Que!? - o outro olha pra trás rapidamente e continua. - O que tá fazendo aqui guri!? Tu ligou pra polícia?
 
...Eu contando isso pra vocês agora, me fez pensar que eu realmente poderia ter feito isso.
 
- Não, senhor. - respondi calmamente. - Eu só quero ir pra minha casa.
- E tu acha que a gente tem cara de taxista?
- ... O senhor tá dirigindo um, né?
 
Rimos muito.
Apanhei e fui jogado fora do carro.
Estava quase anoitecendo e ainda chovendo. Peguei minha mochila e minha mala e sai andando pelas ruas. Tinha voltado a estaca zero novamente. Mas, ainda me lembrava o endereço que a senhora da lanchonete me deu. Mas não adiantava de nada, já que não sabia as ruas dessa cidade idiota.
Olhava pro chão, e nos meus pés molhados, escorria o sangue que a chuva lavava meu rosto. Não sabia o que fazer, pra onde ir ou pra quem pedir ajuda. Mas, continuei andando até uma maluca me acertar de bicicleta. A colisão foi tão feia que ela voou dali. Corri pra ajudá-la e levei pra baixo de uma árvore, para não pegar chuva.
Ela se recuperou do impacto e com um sorriso disse:
 
- Oi! Tudo bem?
- É, oi. Eu que pergunto.
- Tá tudo bem. Desculpa por isso, estava meio apressada... Pera, cadê!?
- O que?
 
Ela se levanta e entra em pânico, procurando algo. Até que olha para o meio da rua e ver  que alguns papeis sendo levados pelo córrego.
 
- Droga. - diz ela desapontada.
- O que era?
- Era pra festa de boas vindas pro vizinho novo... Agora, perdi o mais importante.
- E o que era?
- Era um cartaz escrito: "Boas vindas".
 
Que con
 
veniente.
 
- Que pena. Mas, você tá bem?
- Tô sim... Você não é daqui, é?
- Na verdade não. Tô um pouco perdido.
- Talvez eu possa te ajudar.
- Bom, então sabe onde fica a rua Estelar Oliveira?
- Sei sim. Vem, eu te levo.
 
Ela pega a bicicleta e pede para eu subir na garupa. Eu me questiono se isso realmente seria seguro. Não medo dela ser uma assaltante. Medo mesmo dela andando nessa bicicleta. Dizem que a primeira impressão é a que fica, e a primeira que tive foi maravilhosa... Mas, fazer o que, né?
Subi e ela me levou. No caminho ela foi conversando sobre como estava planejando a festa e minha mente só pensava no motorista de táxi. Espero que ele esteja bem. A garota que me levava não parava de falar, então até que me acalmou. Tinha uma voz suave e ria a cada duas palavras. Em minutos já tínhamos chegado na rua, ela pergunta qual era o meu prédio e quando eu respondo, ela cai novamente da bicicleta... Comigo em cima. Cai por cima das malas, na lama e ela um pouco na minha frente. Se levanta rapidamente, e extremamente animada ela vai até mim e pergunta:
 
- Carlos?
- Sim?
- Meu Deus, é você! - diz ela gritando e me abraça.
- É... Sou... Eu...? - digo confuso.
 
Ela pula de alegria enquanto me abraça e diz: 
 
- Você é o novato! ... Meu Deus. - ela muda o tom, ficando preocupada. - Você é o novato...
 
Do nada, ela correu para dentro do prédio rapidamente. Eu em.
Eu vou até a portaria, todo sujo de lama, mas não me deixam passar até eu me identificar. Procurei minha carteira pra apresentar meus documentos... E cadê minha carteira?
Eu simplesmente havia perdido a coisa mais importante quando se está em um lugar desconhecido. Eu tentei mostrar minha cara, meu nome e sei lá, responder perguntas pessoais. Mas nada adiantou.
Procurei algo que provasse que eu era... Eu?
Com certeza esse momento foi desesperador, mas eu estou rindo dele até hoje. Então acho minha CNH. Dou ao porteiro e ele me deixa subir. Ele me dá a chave do meu andar e diz: "Não se preocupe, o seu apartamento tem banheiro". É, eu ia rebater. Mas ele tinha razão, eu estava podre.
 Entrei no elevador, apertei no andar que ia ficar e esperei subir. Foi um bom caminho pra refletir como em poucas horas minha vida parou de fazer sentido. Essa rotina de cidade grande é bem estranha se parar para pensar. Passamos por tantas pessoas que sempre estamos tentando provar quem somos nós mesmos.
Quando a porta se abre, foi a primeira vez que vi todos reunidos e gritando "SEJA BEM VINDO".
Eu me assustei e muito. Afinal, depois de um dia todo ser jogado pra cima e pra baixo em um lugar que você não conhece, sentir aconchego é bom, mesmo que seja de desconhecidos.
 
- Oi... Obrigado. - digo.
- Esse é o Carlos. - diz a moça que me atropelou. - Eu atropelei ele e o trouxe em segurança.
- "Segurança"? - questiono.
- Desculpa. - diz ela rindo. - Bom, prazer, me chamo Renata.
 
Todos se apresentam nesse momento. João cuidou dos meus ferimentos e logo desceu para informar a polícia do que aconteceu com o taxista. Já que eu estava com o telefone do motorista, ele disse que era o suficiente para pedir a placa e tudo mais. Depois do banho, todos me fizeram companhia para o jantar naquela noite.
Foi quando eu conheci as pessoas que seriam responsáveis por mudar minha vida, mas também, para melhorar. Essa foi só um resumo de como nos conhecemos... Volta mais vezes, tenho várias coisas pra te contar.