Perdidos no Natal? Tavez - Parte 2


 - Alguém... - diz Miguel, tentando absorver o que acabou de acontecer. - ... Que sensação estranha...
- Que parece que foi sugado por um Buraco Negro? - pergunta Aurora, sendo a primeira a se levantar.
- Exatamente. - diz se levantando logo em seguida.
 
Quando todos se levantam, se veem no alto de um prédio em algum lugar da cidade. Parece ser a mesma cidade, mas estava de alguma forma, diferente.
 
- Qual o nome do Livro? - Carol repete a pergunta.
- Pera. - diz Miguel voltando a realidade.  - É sério que essa é sua preocupação agora? - diz soltando um sorriso de leve.
- Vai que isso ajuda a sair daqui.
- A gente foi sugado por um livro? - indaga Samantha.
- Vai ver era só uma... Sei lá... Forma de segurança de intrusos como a gente caírem fora... Quer dizer, é impossível. - diz Miguel, gaguejando um pouco entre as palavras. - Ela não é uma... Bruxa... Né?
- Não chama ela assim. - diz Samantha. - Coitada, ela só...
- Jogou a gente pra fora com um livro mágico.
 
Ele pega a capa do livro e tenta ver o que está escrito, mas parece ser escrito em outra língua.
 
- Tá em russo. - diz ele.
 
Corrigindo. A capa está escrita em Russo.
 
- Bom. - diz Samantha, batendo palmas rapidamente para a atenção se voltar a ela. - Vamos tentar entender o que está acontecendo. Palpites?
- Entramos no livro? - diz Carol, estranhamente de forma animada.
- Não parece ser  tão impossível. - diz Aurora, levantando suas sobrancelhas de forma que nem ela acreditou no que disse. - O que vamos fazer então?
 
Miguel abre o livro e vagarosamente deixa ele em sua frente e de repente se taca em suas páginas, mas nada acontece.
 
- Sério que esse era seu plano? - diz Samantha rindo da cara de bobo que ele faz.
- Fizeram vocês rirem ao menos. Ponto pra mim.
 
Aurora pega o livro do chão, ler um pouco dele e  descobre que—
 
- Não é um livro. É um diário. - diz ela.
 
Sinceramente, ninguém mais respeita os narradores hoje em dia.
 
- O que? - pergunta Carol.
- Olhem... Foi escrito pela própria Sra. Clark.
- Que bizarro...
 
Eles folheiam as páginas e veem que ela parou de escrever no dia 25 de Dezembro de 1978, depois dessa data, as páginas estão em branco.
 
- Que conveniente... - diz Miguel. - Então, estamos presos no diário dela?
- Pelo o que parece, sim. - responde Aurora fechando o livro.
- O que vamos fazer? - pergunta Carol.
- Se a gente achar ela? - sugere Samantha. - Ela é a dona do diário. Deve saber como sair.
- Certo, mas onde ela pode tá? - pergunta Miguel.
 
Olham ao redor, enquanto param para pensar o que fazem, Aurora começa a ler as páginas anteriores a essa data. Enquanto Samantha vai para o parapeito, ver a cidade de cima, aproveita a brisa do lugar.
 
- Cuidado. - diz Miguel chegando perto dela.
- Pode deixar... Foi mal, por meter vocês nessa.
- Não foi culpa sua.
- Claro que foi... Se eu não tivesse ido pra sua casa, isso não ia acontecer.
- A gente praticamente entrou em um livro. Tá pedindo desculpas por fazer a gente ter uma história pra contar?
- E se a gente não voltar? Se ficarem presos aqui por minha causa?
- Não se preocupa. Não vou deixar isso acontecer.
- Você não pode sempre salvar a gente, Miguel.
- Eu sei. Mas vou sempre tentar. - responde ele com um sorriso e beijando-a na testa.
 
Lendo com atenção a cada detalhe, Aurora ver que a Sra. Clark era uma pessoa bem sensível, com suas palavras transparecendo todo o amor que sentia pelo—
 
- O namorado da Sra. Clark. - diz Aurora achando uma foto entre as páginas.
 
Mais uma dessas e eu juro que me demito.
 
- Que!?  - indagam o resto.
- Olhem. - diz ela mostrando a foto para os restantes.
 
Ao verem a foto, veem Sra. Clark bem mais jovem ao lado de um homem. Ambos sorrindo e abraçados em um lugar que parecia um banco de uma praça.

- Senhor marido da senhora Clark? - pergunta Miguel em tom de brincadeira.
- Nem sabia que ela era casada. - diz Samantha.
- Nem sabia que ela podia amar. - diz Carol.
- CAROL! - indaga Samantha.
- O que? Ela dá medo.
- Okay. - diz Miguel rindo. - Como vamos achar ela?
 
Aurora nota que tem algo acontecendo no diário. Abre até as folhas que estavam em branco e nota que—
 
- Gente! Olha isso. - exclama ela.
 
MEU DEUS, ME DEIXEM NARRAR EM PAZ.
Todos se aproximam e veem que na página em branco, começou a ser escrito algo... "No começo do dia, ele me convidou para um encontro. Marcamos as 10 da manhã, mas já estou pronta desde das sete..."
 
- Mas é claro. - diz Miguel com um grito comemorativo. - Ela está vivendo o momento. Se estamos vivendo suas memórias, é só usar o diário como um mapa. 
- Então vamos.
 
Eles saem e vão em direção as escadas para saírem do terraço e entrarem, para irem ao elevador. Apertam o botão do térreo e esperam descer.
 
- Alguém sabe onde é essa tal de cafeteria? - pergunta Aurora.
- Qual o nome? - pergunta Carol.
- "Sentimentos em Xícara".
- Ah, eu conheço. - responde Miguel. - Meus pais falavam desse lugar.
 
Chegando ao térreo e saindo do prédio, se impressionam com a diferença da época. Com os enfeites de Natal por todos os lados e as pessoas pelas ruas com roupas antigas, desejando "Feliz Natal" até para o cachorro na rua. Quando olham para o grupo, estranham logo de cara, pois estão vestidos de formas totalmente diferentes. Andam envergonhados entre a multidão e ouvem um homem falando:
 
- Esses jovens estão cada vez mais estranhos.
- FALA NA MINHA CARA PRA VER SE AGUENTA, MEU IRMÃO. - grita Miguel ao ouvir isso.
 
As meninas o arrastam e mandam ele ir na frente para dizer o caminho. Ao ver as outras pessoas felizes por essa data, Samantha se questiona por que não consegue ser assim. Mesmo tendo os seus amigos e sua família, fica se perguntando se estar presa no diário da Sra. Clark é realmente um castigo, ou foi uma forma de fugir desse dia monótono. Olha para seus amigos e pensa se sentem o mesmo ou que realmente querem sair dali. Miguel para e diz: "Chegamos". Olham e veem uma típica cafeteria retrô, com direito a xícara gigante e tudo mais.
 
- E agora? - pergunta ele. - "Olá senhora jovem Clark, entramos no seu diário do futuro. Como saímos"? - diz ele brincando.
- "Batam os sapatinhos três vezes e retornarão para casa". - responde Samantha imitando uma voz idosa, rindo junto com ele.

Levemente Carol pega o diário e bate na cabeça dos dois.

- Deixem de serem bobos. - diz ela, segurando o riso. - Vamos montar um plano? ... Aurora?
- Vamos tentar conversar com ela.
- Certo.

Eles entram e se sentam em uma mesa perto da janela. Logo uma jovem com belos olhos verdes, que eram realçados pela sua pele negra chega para atendê-los.

- Olá, bem-vindos ao... - ela se distrai pela peculiaridade deles. - ... Vocês são daqui?
- Oi? - pergunta Carol.
- Suas roupas, são bem... Legais.
- We are from abroad. - diz Miguel.

Samantha que entende o que seu amigo disse, continua:

- Ah, sim. - diz forçando um sotaque gringo. - Nós somos de fora. Viemos para... Trazer uma nova moda...
- Nossa, então bem-vindos ao—

Ela é interrompida por um cliente que grita a chamando de forma grosseira. Eu entendo moça, é horrível ser interrompida. "Um minuto" diz ela indo até ele.

- Por que? - pergunta Aurora em relação ao Miguel ter falado em outra língua do nada.
- Olha como estamos vestidos. - responde ele. - É mais fácil que somos de fora do que do futuro. - diz com um leve sorriso.
- Aqui é legal. - diz Carol. - Por que não fazem mais coisas assim? É tão lindo esse estilo.
- É, acho elegan—

Miguel é interrompido pelo mesmo grosseiro de antes, que estava gritando com a garçonete... Queria dizer nada, mas o carma vem para todos.

- Mas algumas coisas nunca mudam. - comenta Samantha.
- ... Enfim. - diz Miguel com um forte suspiro. - Alguma atualização no diário?
- Nenhuma.
- Logo ele deve apare—

Ele é interrompido de novo pelo grosseiro gritando: "ISSO É UMA FALTA DE CONSIDERAÇÃO COM MINHA CLASSE! SER ATENDIDO POR UMA PESSOA DESSA RAÇA". Nesse momento, Miguel respira fundo e diz: "Já chega". De repente pega o porta guardanapo de metal, que estava no centro da mesa e joga no homem com toda sua força, acertando na cabeça do homem.

- VOCÊ É LOUCO MOLEQUE?
- "MOLEQUE"!? EU VOU TE MOSTRAR QUEM É O MOLEQUE AQUI. - grita Miguel indo pra cima dele.

As meninas se levantam para segurarem ele antes de causar uma confusão... Quer dizer, o Miguel fez a cabeça do homem sangrar, então a confusão já começou.
Com raiva, o homem começa a xingar Miguel com todas as palavras que não podem ser escritas em um Especial de Natal. Mas, isso não é surpreendente, não é? Um ser humano que julga outro ser humano como "inferior" não deve ter tido uma boa educação, o que deixa apenas um espaço vazio na cabeça.
As meninas seguram seu amigo pra evitar algo pior, até que Miguel diz: "Ele tá xingando porque não se garante no soco" e parte pra cima do homem com tudo. As pessoas ao redor tentam apartar a briga, mas é quase impossível, já que os dois trocam socos e se jogam por cima das mesas, quebrando tudo ao redor. O lugar só se acalma com a chegada das autoridades para levarem os dois dali. Na correria para acompanhar seu amigo com os policiais, Aurora pega o diário para levar junto e ver uma linha sendo adicionada: "E meu encontro foi cancelado por uma confusão na cafeteria".
 
Escrito por: João Neto.