Diário - Dia 1



Dia 1.
19 de agosto, 2016.


O silêncio noite sempre me faz pensar como as coisas podem ser calmas em meio a tanto caos. Com o frio tomando conta das pontas dos meus dedos das mãos e dos meus pés, me sinto em paz com o que acontece comigo, independente do que seja.
Mais uma vez as caixas tomaram conta do cômodo que irei chamar de quarto daqui para frente. Ainda não tive coragem de tirar minhas coisas de dentro, não por preguiça, mas não estou pronta para arrumar tudo da maneira que gosto, me adptar ao meu novo lar, e sem mais nem menos ter que guardar tudo novamente e ir para uma nova cidade, em um novo estado, e começar tudo de novo.
Já é a quinta vez que nos mudamos em apenas nove meses. Poderia dá tempo de uma criança nascer nesse intervalo em que eu guardava e tirava meus livros das caixas e pôr em prateleiras. Já repeti isso tantas vezes, que já aprendi a deixá-los organizados de forma que não irei ter trabalho de pegar para guardar e se preocupar com o espaço que ocuparão nas caixas que aprendi a guardá-las em baixo da cama, pois nunca terei sorte de achar umas grandes o suficiente que caibam tudo.
Essa minha rotina de mudança é bem desgastante, mas aprendi a conviver com ela. Desde dos meus 10 anos venho a me adptar a mudar de cidade sempre que mamãe chega desapontada em casa. E todas as vezes diz que a próxima mudança terá mais sorte, hoje completo 18, e já não acredito mais nessa frase, mas quando entramos no carro e ela sorri com um olhar triste, porém esperançoso, descido não magoá-la com a verdade óbvia.
Nunca soube exatamente os motivos dessas mudanças, pois ela comenta por cima que houve problemas no trabalho ou que teve uma oferta melhor em uma cidade próxima, mas desconfio que seja por conta de papai. Depois que eles terminaram, ela nunca mais foi a mesma. Cuidou de mim sozinha e eu nunca mais o vi.
Não posso dizer que sinto saudades, já que era muito nova para lembrar de sua voz, mas lembro de como mamãe era outra pessoa antes dele nos deixar e sinto que aquela mulher nunca mais irá voltar.
Nessas mudanças conheci vários lugares e pessoas. Nunca fiquei em uma cidade por tempo o suficiente para fazer laços com alguém, mas em minha última parada, conheci um amigo que me recomendou fazer o que estou fazendo agora… Escrever. Seja sobre o que sinto ou sobre o meu dia.
Acabou que guardei tudo que precisava nessas caixas, mas em alguma cidade, acabei me esquecendo. E talvez, escrever nesse diário me ajude a me encontrar novamente, ou pelo menos, saber onde me esqueci.


As estrelas estão tímidas hoje, e o vento frio ofegante, entrando pela janela e batendo diretamente no meu rosto. Ao menos isso, nunca muda.