Mar

 

- Já é a terceira vez que vem aqui. - diz um homem com os cabelos grisalhos atrás de mim tão de repente, que faz meu coração errar algumas batidas.

- Eu estou… Pensando. - respondo ao me recuperar do susto.

- Pensando. - fala vagarosamente, sentando-se na pedra ao meu lado. - Quando eu era jovem assim, não costumava pensar.


Não respondo com palavras, mas deixo o som da água batendo nas rochas aos nossos pés responderem por mim.


- O que ele leva, não volta mais. - continua ele, entendendo o recado.

- Eu sei, mas quero esperar.

- O que?

- Ele trazer de volta.

- Quanto mais esperar, mais vai perder. Quando vim aqui pela primeira vez, essas pedras não eram tão escorregadias e lisas.

- Mas quero esperar. Algum momento essa maré vai baixar e vou conseguir pegar de volta.

- Ah, filho. - fala com experiência no tom, como se estivesse prestes a me dar um sermão. O que por si só, já me deixa irritado. - Não é assim que ele pensa. Mesmo que o mar recue para você, não irá devolver nada.

- Como sabe disso!? - indago para parar de ouvir o que ele fala.

- Você não é o único que teve algo levado pelo Oceano. Ele é majestoso comparado a nós. Ingenuidade sua de se achar tão especial ao ponto de acreditar que só você tenha algo que ele queira. - fala com pesar, apertando uma segunda aliança em seu dedo anelar.

- O senhor apenas não tentou o suficiente–


Paro quando percebo que o que falei pode ter sido um erro, mas a reação dele me confunde, já que foi apenas soltar um sincero sorriso, como se estivesse ouvindo uma velha piada.


- Qual a graça?

- Eu não tinha esse cabelo branco quando comecei a buscar. Rodei os sete mares, em busca do oitavo se possível. Mas, eu me dei conta.

- De que?

- Quanto mais eu buscava recuperar, mais eu perdia. No caminho, perdi mais procurando do que perderia se eu decidisse aceitar que a partir daquele momento que as águas salgadas a levaram, o mundo dela era ali, não o meu.

- Você tá me dizendo para simplesmente aceitar!?


Não me contento em ficar sentado. A raiva que corre pelo meu corpo pede para ser gasta. De pé, chuto uma pedra para o mais longe possível que posso, mas, acabo perdendo o equilíbrio e por pouco não caio na água violenta que saciava para me devorar.


- Ouviu o que eu disse? - pergunta o velho, me segurando pelo braço, sendo a única coisa que impede minha queda. - Não adianta buscar, esperar ou muito menos nadar contra a correnteza. Ele é maior do que você.

- Então me deixa cair. - digo sem esperança, com a voz quase sem vida. - Talvez assim, eu aprenda.

- Não, garoto. - fala me puxando gentilmente para perto dele. - O verdadeiro professor, é ele. - termina ao apontar para o horizonte. - Quando finalmente aprender, estarei esperando.


Quando consigo ficar de pé sem sua ajuda, ele dá uma leve batida em meu ombro e com um sorriso, se despede.

De pé, observo o Sol escondendo-se atrás das ondas e o Oceano seguindo-o. Desço as pedras com cuidado e caminho para onde era o mar, agora, um caminho.

Algo me chama atenção, brilhando ao refletir os últimos raios de luz que o astro rei dá nesse dia.

Vou sem pressa, pois sei que agora o mar está me deixando passar.

Quando finalmente chego perto daquilo que atiçou minha curiosidade, vejo que é um colar com um pingente familiar. Apanho com delicadeza e tiro o excesso de areia para que eu possa ver melhor seus detalhes.


Reconheço o prata do qual é feito.


Olho para frente, com timidez, o caminho continua a se abrir. Olho para trás, miro nas pedras que estava sentado, que antes resistia as batidas das águas, agora repousa.

Olho uma última vez para o colar e com a mesma delicadeza que eu tirei, ponho de volta.


- Seu lugar é aqui agora. - falo ao cobrir com a areia molhada. - Mas, prometo nunca te esquecer.