Moedas


- Por que precisa de tantas moedas? - pergunta um homem mais velho, que me observava a pelo menos vinte minutos.
- Vale a pena guardar! - respondo com um sorriso, pondo mais uma moeda dentro do pote de barro.

Mesmo sendo bem espaçoso, a moeda não produz um som tão notável ao cair dentro do pote, já que há várias outras dentro, abafando e absorvendo o som.

- Até que pode, mas essas moedas são mais antigas do que eu. - continua o homem, depois de beber algo que estava no balcão.
- São preciosas para mim.
- Então não se importa em não terem algum valor?
- Não. - respondo continuando a pegar as moedas que estão espalhadas na mesa.
- E como isso funciona?
- Como assim?
- Você junta todas essas moedas, enche o pote… E depois?
- Eu guardo!
- Vai poder usufruir disso em algum momento?
- Já estou.
- Guardando. - fala como se estivesse me corrigindo, levantando o dedo indicador.
- Elas são preciosas para mim. Nem tudo precisa de valor material, sabe?

Noto que o pote está praticamente cheio, então pego-o com as duas mãos com as duas mãos por conta do peso e vou até o balcão, onde o homem está sentado, e deixo o pote ao lado dos outros que também estão cheios.
Me abaixo e abro a gaveta do armário e pego mais um pote vazio. Com cuidado, levo até a mesa e me sento novamente.

- Eu sei como valor sentimental importa tanto quanto o material. Mas, não acha que isso ocupa espaço demais?
- Todas as moedas estão bem guardadas no lugar delas.
- E quando não estiverem? Terá que ocupar espaço em outros lugares. Esses poderiam ser melhor aproveitados. - fala ao se levantar e ir até a mesa, perto de mim.
- O que quer dizer com isso!? - pergunto rapidamente, pois todas essas insinuações estão começando a me irritar.
- Quero dizer que essas moedas podem ser importantes para você. - diz ao segurar meu pulso, me impedindo de pôr mais uma moeda. - Mas, se acumular demais, não irá trazer nada de muito benéfico. E quando se der conta, serão elas que estarão pondo você em um pote.

Ele solta meu pulso e recuo minha mão, observando a situação.

- Isso não deveria ter tanta importância.
- Mas tem. Mais do que imagina. Quando tentamos guardar demais uma coisa, com o tempo ela passa a perder sentido. Essa moeda poderá perder valor amanhã. 

- Então o que eu deveria fazer? Gastar tudo hoje?
- Isso creio que seja impossível. Algumas delas já não valem mais nada. Porém, você pode escolher quais guardar e gastar.
- Tenho medo de precisar delas depois…
- Ah, e você vai! Uma hora não terá nenhuma para guardar ou gastar. Mas isso não deveria ser sua preocupação.
- E qual seria?

Ele vai até os potes que estão cheios e sem muito jeito põe no balcão, soltando um suspiro de alívio, seguido de um: “Nossa, isso pesa!”. Pega umas quatro moedas novas e vai até mim, pondo elas na minha frente.

- Que tal aproveitar o presente que elas podem proporcionar?
- Assim eu vou perdê-las para sempre.
- Talvez. Ou quem sabe, não sobre algum troco? - pergunta com um sorriso, que me convida a segui-lo enquanto sai pela porta.

Paro e observo a moeda em minha mão e o pote em minha frente. Me levanto e ponho ela no meu bolso. Pego as chaves e saio pela porta, trancando-a ao passar.