Espinhos

 

- Ai! - exclamo de dor ao receber o presente, deixando a flor cair.

- Desculpa. - diz ela se abaixando para pegar a rosa branca, de maneira que parece ignorar os espinhos que a perfuram.

- Você não avisou que ia doer. - digo ao me virar, procurando um papel toalha para limpar o sangue que corre pela minha mão.

- Achei que soubesse. Toda rosa tem espinhos.

- Não acreditei que teria coragem de me machucar com elas.

- Não era o que queria?

- Me ferir?

- Não! A flor. A rosa. Disse que se machucou, não era isso que tinha que acontecer?

Quando termino de limpar minha mão, olho para as cicatrizes que há nela. Resultado de tantas outras vezes que teimei em me encantar com as pétalas e ignorar todo o resto. Achava que ia compensar pela dor que me causara depois.

- Não exatamente.

- Desculpa, desculpa. Não foi minha intenção. Achei que poderia gostar.

- Eu gostei, de verdade. Mas, queria que tivesse mais cuidado. Não podia simplesmente ter me dado assim.

- Se você sabe que ia se machucar, por que não tomou cuidado?

- Quer dizer que a culpa é minha?

Eu me sento, quase me jogando na cadeira. Solto um forte suspiro e tento organizar meus pensamentos para não dizer tudo que vem à cabeça.

- Não estou dizendo que a culpa é sua. - responde ela.

- Ao menos deveria—

- Ter avisado sobre os espinhos. - diz ao me interromper. - Eu sei, eu sei. Eu cultivei com muito carinho, não era para te ferir.

- Eu sei. Agradeço, mas já me machuquei muito, não posso ficar aguentando os espinhos assim.

- Então… Não gostou da rosa?

- Eu amei. Ela é única.

- E se eu tirar os espinhos? Sei que não vai curar seus ferimentos, mas pode impedir de te machucar de novo.

- Obrigado.

- Todas as vezes que recebi flores, sempre vieram com espinhos. Achei que assim era normal…

Quando diz isso, abre a mão, mostrando algumas cicatrizes que tem na mão direita. Tanto quanto as minhas. Porém, parece que são mais profundas, como se não as soltasse quando os espinhos machucavam, mas sim…

- Estava se acostumando com a dor? - indago, perplexo com o que vejo.

- Sim. Depois de um tempo, passei a nem sentir mais.

- Mas isso não é para ser normal. É pra sentir bem ao tê-las, não para machucar.

- Como ia saber? Ninguém teve o cuidado de tirar os espinhos… Algumas vezes, forçavam a aceitar. Sempre acreditei que era essa a maneira correta. Afinal, vivem dizendo que temos que suportar algumas dores.

- Não era para suportar esse tipo de coisa.

- A flor era bonita. Passei a pensar que, quanto mais bela fosse… Mais suportável tinha que ser a dor.

- Por isso me deu assim.

- É…

Me levanto para pegar a flor que separei para dá-la. Abro a mochila e tiro uma rosa vermelha, embalada como um mini-buquê.

- Aqui. - digo, estendendo para que ela pegue. - O normal é assim. Não precisa se machucar para ter por perto.

Pego a rosa branca que ela me deu, com cuidado, desviando os dedos dos espinhos. Sinto seu aroma, doce e suave.

Volto a olhar para ela, feliz por não ter medo de se machucar com a rosa vermelha que lhe dei, que um dia, já foi branca como a neve.