- Por que fez isso!? - indaga ele perplexo.
- Era melhor. - responde friamente, olhando o companheiro apanhar as cartas de baralho no chão.
- Melhor como!? Agora vou ter que começar tudo de novo.
- E isso não é bom?
- Como isso seria bom? Eu poderia dar um jeito só corrigindo os defeitos.
- Até quando?
- O que?
- Até quando vai ficar apenas corrigindo as falhas? Te impedia de continuar. Se recomeçar, tem maiores chances de dar certo. Além do mais, pode aprender com que errou na última vez.
- Você não entende.
- O que?
- Se eu ficasse recomeçando toda vez que erro, nunca ia sair da estaca zero.
- Como garante isso?
- Eu demorei muito tempo para conseguir empilhar elas. - fala ao recomeçar a base da torre de cartas. - Derrubar só fez com que esse tempo tenha sido em vão.
- Tem certeza?
- Como não teria!? - pergunta, começando a alterar o tom de voz.
- A torre parou de ganhar tamanho a cada vez que voltava para corrigir algum erro. Às vezes, não precisamos ficar focando no que está dando errado. Te impede de prosseguir.
- Muito bonito o que disse. Mas, não precisava fazer isso.
- A única coisa que está dizendo é que não quer se desfazer de algo que não vai dá continuidade simplesmente porque investiu tempo naquilo. - fala ao chutar novamente a pequena base que o outro formara. - Já parou para pensar, que talvez, só talvez, isso possa te atrasar também?
- Me deixe em paz…
- Pode ignorar o quanto quiser. Mas, não se pode negar o fato de que toda vez que tenta corrigir um erro, acha outro, e outro e outro.
- Assim vai ficar sem falhas.
- Algumas têm que existir. Tudo tem seus erros e imperfeições. Não pode mudar isso. É o que faz a torre crescer.
- Ter falhas?
- Aceitar as falhas e continuar crescendo.
Sem ânimo, deixa as cartas no chão e se senta, olhando para o baralho espalhado.
- Não se pode crescer perfeito. - diz o que continua de pé.
- Então é isso? Recomeçar?
- Sim. É a melhor maneira. Fora que, vai parar de perder tempo tentando corrigir o que não pode e focar em deixar a torre maior.
- Que saco.
- O que?
- Eu só… Sei lá, queria fazer tudo certo dessa vez.
- E você pode. Mas fazer certo é diferente de fazer perfeito. Tudo bem não querer errar, mas às vezes, é necessário para crescer. Aprendemos e continuamos. Não tenta ser perfeito, tente ser melhor.
- Melhor de que?
- Que você mesmo. - diz se abaixando e dando uma das cartas para ele. - O mais difícil sempre é começar. Recomeçar é a parte fácil. Agora, vai ter mais chances de acertar.
- E de errar também.
- É, vai sim. Mas com esses erros, pode aprender. Ou pode ignorar e continuar errando.
- Isso não tá ajudando.
- E nem vai. Isso depende do que vai fazer com esses erros. Nem sempre terão um propósito, mas pode ter certeza, de uma maneira ou de outra, vão te ensinar algo.
- Okay. - diz ao receber a carta e mais uma vez, recomeçando a base de sua torre.