Sem Sinais

 - Como que isso aconteceu? - pergunta o rapaz, entre as remadas que dá para o pequeno bote continuar seguindo em frente.
- O que? - pergunta o senhor mais velho, na frente, guiando o percurso com uma lanterna a vela na mão.
- Passou vários navios aqui. O Sol ainda estava iluminando todo o oceano quando aconteceu. A praia está logo ali na frente. Como deixaram ele se afogar? - pergunta se referindo ao homem desacordado dentro do bote.
- Seja mais específico. - diz com a voz rouca do tempo, sentando-se de frente para o rapaz. - Você tem em mente que as pessoas não sabem reconhecer um pedido de ajuda.
- Ele estava se afogando. O que tinha que reconhecer?
-Já vi muito nessa vida. E o que sempre me surpreendia eram as pessoas. Nem todas se afogam, alguns conseguem nadar até a praia, outros querem pedir ajuda, mas não conseguem da maneira certa.
- Como assim? Tem maneira certa para pedir ajuda?
- Para algumas pessoas sim. - fala soltando um cansado suspiro. - Alguns vão entender com palavras. Mas, mal sabem elas que há várias maneiras de pedir. Desde de grandes sinais, como a maneira que olham,
- Isso não parece muito bom… Para nenhum dos dois. - fala ao encarar o homem mais uma vez.
- Com certeza não. Não existe tanta atenção, garoto. Às vezes, acham que as pessoas querem se afogar. Não entendem que nem todos sabem nadar, entende?
- Eu entendo… Eu acho.
- O tempo vai te mostrar isso. Veja só, ninguém da praia veio ajudar. Se não fosse por nós, ele ainda estaria se debatendo na água, ou até mesmo… Bom, você sabe. Se torna mais fácil ignorar e fingir que não está vendo, já que assim, não vai ser responsabilidade deles.

O garoto não responde, as remadas parecem mais difíceis, com os braços mais pesados.

- O que foi, garoto?
- Se o senhor não estivesse no barco comigo, eu não ia ver que ele estava se afogando. Isso me faz uma pessoa ruim?
- Não. Fingir não ver e não ver são coisas diferentes. Tente aprender com isso.

A praia chega mais perto e o senhor continua:

- Ver os sinais não adianta se não sabe o que fazer com eles. Posso atirar uma forte luz vermelha nos céus, mas se as pessoas ao meu redor não saberem o que significa, o que adianta? Nem todos estão se afogando porque querem, nem mesmo queriam estar no mar. O que podemos fazer é entender como chegaram lá… E assim, ajudá-los a sair.